sábado, abril 29, 2006

1980: Morre Alfred Hitchcock



No dia 29 de abril de 1980, morria Alfred Hitchcock, o famoso diretor de cinema, gordo, simpático e careca. Mesmo várias décadas depois de seu falecimento seus filmes ainda fazem sucesso.


Filho de um vendedor de verduras, Alfred Hitchcock (Londres 1899 - Los Angeles 1980) começou a se interessar pelo então novo meio de comunicação, o cinema, em 1915, quando trabalhava na Henley Telegraph & Cable Company.
Conseguiu emprego num estúdio de Londres, depois de concluir o filme Always tell your wife, cujo diretor adoecera durante as filmagens. Seu segundo filme, Os jardins dos prazeres, marcou o início de sua carreira como cineasta, aos 26 anos de idade.
Desde The lodger (1926), seu terceiro filme, começou a praticar o gênero que o tornaria mundialmente conhecido, o suspense. O cinema sonorizado abriu-lhe novas possibilidades de magnetizar o público. O homem que sabia demais (1934), Os 39 degraus (1935) e Sabotagem (1936) são clássicos até hoje.
Suspense calculado
Hitchcock transformou os espectadores em cúmplices: eles sabem de onde parte a ameaça ao protagonista, mas não podem impedir que este caia ingenuamente na armadilha. Já famoso pelos trabalhos de juventude, o cineasta recebeu em 1939 um contrato do produtor de E o vento levou..., David Selznick, para trabalhar em Hollywood.
Hitchcock lá estreou, em 1940, com Rebeca – a mulher inesquecível. Três anos depois, realizou A sombra de uma dúvida. No maquinaria hollywoodiana, Hitchcock viu a possibilidade de pôr em imagens todas as suas fantasias. Os atores e atrizes de Hollywood também o fascinaram: eram capazes de interpretar personagens de carne e osso, sem afetação.
Num tempo em que os diretores de cinema eram apenas empregados de estúdio, Alfred Hitchcock conseguiu a proeza de ser a principal estrela de seus próprios filmes e de trabalhar com ampla autonomia. Isso se deveu tanto ao senso publicitário aguçado, quanto à sua identificação com um gênero – o suspense.
Artista ou artesão?
Comercialmente, suas obras eram um sucesso, mas ninguém ousaria chamá-lo de artista do século. Considerado nos EUA apenas um cineasta técnico, por muitos anos, teve sua importância reconhecida pela crítica francesa, nos anos 50. Em 1954, a revista Cahiers du Cinema dedicou-lhe toda a edição de número 39, considerando-o, pela primeira vez, um artista.
O período mais frutífero de Hitchcock foram os anos de 1954 a 1963. É dessa época uma série de obras-primas que o fixaram como um dos principais cineastas de todos os tempos: Janela indiscreta (1954), Um corpo que cai (1956), Psicose (1960), Os pássaros (1963), entre outros.
Mais de vinte anos após sua morte, a 29 de abril de 1980, essas obras continuam recebendo remakes e influenciando gerações de roteiristas e diretores.
Cinema da culpa e repressão
De formação católica jesuítica, Hitchcock levou para o cinema preocupações trazidas da infância: culpa, pecado, medo e atração e repulsa pela sexualidade. Dizia que a técnica nunca deveria se impor ao enredo, mas, sim, colocá-lo em evidência.
Em conversa com o colega mais jovem François Truffaut, observou que "o cineasta mais acessível a todos os públicos pela simplicidade e clareza é também o que se supera ao filmar as relações mais íntimas entre os seres". Em termos de suspense, os filmes de Hitchcock ainda hoje são imbatíveis.
Quase 40 anos após ser rodado, Um corpo que cai (uma trama de obsessão, paixão e espiritismo que se desenrola em San Francisco) foi restaurado em 1996. O negativo original em Vistavision estava tão deteriorado que a Universal Studios resolveu investir um milhão de dólares para recuperá-lo.
A trajetória do cineasta e a filosofia de seus filmes foi documentada na coletânea de artigos e entrevistas Hitchcock por Hitchcock, de Sidney Gottlieb, lançada em 1998.

Jens Teschke (gh)
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