quinta-feira, maio 04, 2006

1958: Maria Callas demitida do Scala

No dia 4 de maio de 1958, Maria Callas deixa o Scala de Milão. Uma série de escândalos levou a mais famosa e ao mesmo tempo controvertida cantora de ópera do mundo a perder a simpatia de seu público.



Em meados da década de 50, o Scala de Milão era incontestavelmente o principal palco de ópera do mundo. Apenas por um motivo: a diva divina, prima-dona absoluta, Maria Callas.
Nenhuma outra cantora de ópera do século 20 foi tão idolatrada como ela. E ao mesmo tempo tão odiada. Quanto maior a fama, mais imprevisível foi se tornando, passando a exigir cachês astronômicos e a desprezar os colegas. Como em 1956 sua voz começou a ficar debilitada, ela passou a cancelar concertos.
Depois de sete exaustivos anos de trabalho com a superestrela, o diretor-geral do Scala, Antonio Ghiringhelli, começa a ficar cansado. Em maio de 1958, ele demitiu a cantora depois de uma série de escândalos. Seu comentário fulminante: "Prima-donas vão e vêm, mas o Scala fica!".
O início do fim foi uma série de concertos na cidade escocesa de Edimburgo. Das cinco apresentações previstas, Callas faltou a uma e interpretou mal nas outras quatro. Mesmo assim, pediu compreensão: "Artistas vivem assim. Uma hora você brilha e na outra não é mais tão bom!"
Sucessão de crises
Sua voz, entretanto, ainda estava em condições para brilhar num bar em Veneza, diante da imprensa sensacionalista norte-americana. Callas, que acreditava não ter rivais, pensou ter superado esta crise quando aconteceu o próximo escândalo.
Em homenagem ao presidente italiano, foi organizada em Roma uma noite especial com Callas, em que ela deveria interpretar sua favorita, a Norma, de Vincenzo Bellini. Todos esperavam pela famosa ária, que ninguém cantava melhor que a diva.
No meio da apresentação, no entanto, o choque. Maria Callas avisou que estava impossibilitada. Indignados, o presidente da Itália e seus convidados foram as vítimas do maior escândalo já visto no mundo da ópera.
Ao voltar para Milão, Callas foi recebida com ódio pelos ex-fãs. A raiva foi tanta que, ao retornar da apresentação no Scala, encontrou sua casa manchada com excrementos. O público, colegas e o diretor da famosa casa de espetáculos começaram a lhe deixar claro que ela tinha ido longe demais.
Amor x palco
Callas deu as costas a Milão e começou uma série de turnês pela Alemanha e América. Seu tempo de glória, entretanto, já tinha passado. Ao conhecer o bilionário Aristóteles Onassis, ela trocou o palco pelo jet-set internacional e cantou cada vez menos em público.
Com Tosca, em 1965, na capital francesa, fez sua última grande apresentação. Sua pior crise, da qual não se recuperou mais, começou quando foi abandonada por Onassis. Em 1977, Maria Callas faleceu aos 54 anos de idade, deixando uma mensagem aos fãs: "Querido público, por favor, me entenda como artista que dedicou toda a vida somente à música. Não acredite nas bobagens que andam espalhando sobre mim."

Catrin Möderler (rw) © 2006 Deutsche Welle